Saiba que essa newsletter será daquelas bem melancólicas, fique por sua conta e risco.
Vamos para os álbuns do mês de junho.
Quando era criança, meus avós tinham uma casinha de madeira, bem simples no centro da cidade e aos sábados, era o dia de limpar tudo e lustrar o chão com cera vermelha. Aparentemente, o sexto dia da semana também era o dia do vizinho recolher as folhas e as mangas que caíam no enorme quintal de esquina ao lado do nosso. Eu ficava na porta da sala, aproveitando aquele frescor de casa limpa no fim da tarde, ouvindo o barulho do rastelo do vizinho marcando a terra ao amontoar as folhas secas assim como as músicas que ele colocava no som do carro. Lembro de tocar Modern Talking, Dire Straits, Ace Frehley (aliás, de um CD que eu gravei e dei a ele e sua esposa) e, claro, ABBA. No computador do meu tio, que também morava na casa da minha avó, em algum momento, eu encontrei essas mesmas músicas, não sei, mas talvez eles tenham as trocado de alguma forma. Eu ligava o Windows Media Player e ficava olhando as luzes piscando e dançando na tela enquanto ouvia ABBA, entendendo zero coisas, pois naquela época eu ainda não falava inglês, mas extremamente animada com as melodias agitadas e até triste (????) com as faixas mais lentas como Fernando e Chiquitita. Essa é uma lembrança bem feliz da minha infância já que a música, de fato, foi uma grande companheira. Esse apreço não tenha veio do nada: recordo que meu avô tinha fitas e mais fitas de música sertaneja, o único luxo de um simples peão de fazenda. Esse tio que citei acima, também teve muitos CDs pelos quais eu conheci muita coisa boa como Tina Turner e Engenheiros do Hawaii. Minha mãe, foi na mesma toada e influenciou muito meu gosto musical.
Mas enfim, voltando para o ABBA, esses dias atrás enquanto eu perdia algumas horas de sono passando reels no Instagram, apareceu um vídeo com a música Angeleyes. Eu reconheci pela voz que era o ABBA, mas não lembrava dessa canção. No outro dia, pesquisei pela bendita e encontrei. Angeleyes foi lançada no álbum Voulez-Vous em 1979, junto com outras músicas maravilhosas como a própria Voulez-Vous e Does Your Mother Know, duas canções muito especiais para mim.
Em meados do final de 2015 e início de 2016, eu estava passando por uma situação emocional muito difícil, nunca pensei que era possível me sentir tão triste, derrotada e sozinha. Absolutamente nada me fazia feliz e eu só consegui pensar no motivo da minha insatisfação. Eu tentava ocupar minha cabeça, principalmente saindo de casa para beber com os então amigos da época, mas isso tudo era temporário porque no final da noite o role acabava e quando eu voltava para casa, sozinha, precisava me encarar mais uma vez. Esse foi um daqueles momentos em que, por mais que você tenha pessoas para te ajudar, nenhum desabafo é capaz de te consolar, nenhum abraço é capaz de confortar e nenhuma palavra de carinho pode aquecer seu coração. Esse é um daqueles momentos, que vez ou outra acontecem na vida, em que a gente precisa de tempo para processar os fatos, para curtir a tristeza, por mais que isso seja doloroso, até conseguir entender e seguir em frente. Alguma madrugada cheguei em casa de algum role, joguei o colchão na sala, liguei a TV em algum Telecine e estava passando Mamma Mia (2008), o musical do ABBA. Lembro claramente de tocar Voulez-Vous e Does Your Mother Know enquanto aquele povo cantava e pulava, em uma praia na Grécia. Eu me senti parte daquele momento por alguns segundos. Por uma fração de tempo, esqueci que estava chafurdada na tristeza, esqueci o quanto me sentia sozinha e o motivo do meu sofrimento e substituí tudo isso pela lembrança de como era se sentir feliz e completa. Eu tinha esquecido como era isso. Foi incrível, sério, mas foi muito rápido. Logo meu cérebro despertou e quando percebi que tinha vivido um momento tão intenso de forma tão orgânica, lembrei do quão miserável me sentia.
Ok, já chorei demais, mas e sobre a banda?
A ABBA é uma grupo sueco formada em 1972 por dois casais Agnetha Fältskog e Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad (mais conhecida como Frida) e o nome da banda é formado pela junção das iniciais dos quatro membros. O sucesso comercial teve início quando eles venceram o Eurovision Song Contest em 1974, na Inglaterra, com um visual glam e cantando a música Waterloo. A banda foi relativamente bem recebida pelo público e fez algum sucesso, mas o estrelato, veio apenas com o terceiro álbum, intitulado ABBA (1975) com o single S.O.S. A partir desse momento, eles decolaram e foram a primeira banda sueca a fazer sucesso internacional expressivo.
Como nem só de Rumours (1977, Fleetwood Mac) vive o fã fofoqueiro que acompanha finais amorosos catastróficos descritos em letras de música, em 1980 Agnetha e Björn se separam. O divórcio marcou um momento importante na história da banda que agora compunha letras mais sérias, pesadas e baseadas, em grande medida, nesse episódio. A letra de The Winner Takes It All, escrita por Björn, do álbum Super Trouper (1980) se refere exatamente a situação do divórcio e dizem que Agnetha quando leu a letra pela primeira vez, ficou tão emocionada que chorou.
O quarteto resistiu até 1982, quando Benny e Frida também se separaram, colocando assim, fim a carreira brilhante que durou apenas uma década. O biógrafo da banda, Carl Magnus Palm, afirma que
O Abba começou como um grupo formado por dois casais apaixonados, e quando o amor se foi, grande parte da energia do Abba desapareceu.
A própria Agnetha, em uma entrevista para o El País disse:
[...] estávamos todos muito cansados no Abba, e depois de nossos divórcios não havia razão para continuar juntos.
Particularmente, eu acho a maioria das capas dos álbuns do ABBA belíssimas, além de curioso como a postura dos membros muda com o passar dos anos. Nas primeiras capas, eles estão sorridentes e próximos fisicamente, o que refletia muito bem a paixão e o entusiasmo do começo da banda.
Nos álbuns seguintes, eles estão mais sérios e distantes. No penúltimo disco, lançado antes do hiato de 40 anos, The Visitors (1981) e brevemente anterior a separação de Benny e Frida, os membros estão distantes e alheios uns aos outros, em uma sala pouco iluminada. As melodias das músicas são mais pesadas, até um pouco obscuras eu diria, as letras são complexas e difíceis de digerir. Esse é o meu álbum favorito.
Em 2021, o quarteto lançou um novo e esperado álbum, Voyage, já que desde a separação em 1982, eles jamais se reuniram novamente. O disco é muito bom e mantém a mesma vibe dos mais antigos, vale a pena ouvir. Essa reunião contou com uma tour feita não com o quarteto, mas com hologramas. Isso mesmo, hologramas. Fiquei um pouco assustada? Sim, lembrei de o Congresso Futurista haha Iria no show dos hologramas? Lógico. Quase chorei vendo os vídeos que os fãs soltaram no Youtube? Sim.
Na capa do Voyage, vemos o nascer do sol pela perspectiva de alguém fora da terra. Seria esse um recomeço, uma nova viagem?
Por fim, deixo 3 recados:
1 - Essa é uma playlist incrível de covers de heavy metal das músicas do ABBA e tem duas das minhas bandas favoritas: Ghost e Helloween.
2- Essa é a playlist das músicas que entraram no musical.
3- Agora se você quiser ouvir as originais, digite ABBA no Youtube ou Spotify e tudo feito.
Uma última coisa (eu juro): eu sei que musicais tem um potencial muito grande para serem ruins, mas eu quero deixar claro que Mamma Mia É O MELHOR MUSICAL JÁ FEITO E QUEM CONCORDA RESPIRA. TEM A MERYL STREEP GENTE PELAMORDEDEUS! Eu LITERALMENTE choro horrores na cena da Meryl Streep cantando Slipping Through My Fingers com a Amanda Seyfried.
Se você tiver algum momento especial, com alguma banda/música que marcou sua vida de maneira inesquecível, amarei saber <3
É isso por hoje, tchau.