Qual o motivo de criar mais um conteúdo na internet falando sobre música? Simplesmente para me sentir viva e feliz, já que esse sentimento tem sido cada vez mais raro. O propósito dessa newsletter é única e exclusivamente esse. E, é claro, caso eu consiga alegrar um pouquinho o dia de alguém com memórias desbloqueadas ou novas descobertas, com certeza, será uma enorme satisfação.
No final do mês de maio, fiz essa colagem com os álbuns mais ouvidos no meu Spotify.
Como você pode ver, eu estava determinada a zerar a discografia do Scorpions, mas isso fica para outro dia.
O alvo agora é o quarto álbum do a-ha: East of the Sun, West of the Moon.
Conheço a a-ha desde criança, afinal até um bebê recém nascido já ouviu Take on Me, e eu gostava de outras músicas como Crying in the Rain, Stay on These Roads e Hunting High and Low. Porém, só fui prestar atenção de verdade nos discos da banda em meados de 2021, quando conheci East of the Sun...e foi amor a primeira vista, ouvia compulsivamente.
Lançado em 1990, era até aquele momento o álbum mais "sério" da banda norueguesa. Não apenas pelas letras tratando de assuntos como separações e desilusões, mas também por representar um certo afastamento entre Morten Harket, o vocalista, e os outros dois membros da banda, Magne Furuholmen (tecladista) e Paul Waaktaar-Savoy (guitarrista). Distanciamento esse que pode ser notado até mesmo na foto da capa com Morten mais ao fundo, isolado, e os outros dois a frente. Esse foi um momento decisivo na vida da banda, a a-ha nunca mais foi a mesma.
Em seu livro, My Take on Me, Morten Harket fala sobre esse momento:
De diversas maneiras, aquela foto resumia o álbum e também como estávamos enquanto banda. De bom grado, coloquei-me no fundo, como se aquilo tornasse as coisas diferentes. Mas sabia que estávamos numa situação infeliz.
Minhas músicas favoritas são Crying in the Rain (que aliás, é um cover do The Everly Brothers), I Call Your Name, Sycamore Leaves, Slender Frame e Rolling Thunder. As letras são profundas e as melodias características do new wave da época colaboram com o ar melancólico e nostálgico das faixas. O clipe de I Call Your Name é simples e magnífico e você consegue sentir a dor do término de um relacionamento outrora belo e desejado personificado na figura do Morten, que como sempre, rouba a cena. O cara era boa pinta demais, ainda é diga-se de passagem, o que gerou alguns conflitos na banda visto que a mídia sempre dava muito mais atenção a ele. Paul e Magne talvez não tivessem a mesma projeção estética de Morten, mas merecem muito destaque: grande parte das letras do a-ha fora composta pelos dois. A dupla se conheceu moleque, na escola e, inicialmente formaram uma banda de progressivo chamada Bridges, responsável por compor a música The Juicyfruit Song, que seria no futuro nossa querida e atemporal Take on Me.
Aliás, tenho dois fatos interessantes para compartilhar:
1. Na imagem dos álbuns do mês de maio, há dois álbuns da carreira solo do Paul: Mary is Coming (1996) e Lackluster Me (1997); muito bons por sinal.
2. Não apenas Magne e Paul tinham uma conexão prévia ao a-ha, mas Magne e Morten também. Em seu livro o vocalista conta que quando era jovem, viajava de carro com a família quando, simplesmente, presenciaram um avião caindo. Anos depois, conversando com Magne após assistir uma apresentação da Bridges, descobriu que um dos tripulantes do avião era nada mais nada menos que seu pai.
Logo após o lançamento do álbum, em 1991, a banda fez um inesquecível show no Maracanã. Sobre esse momento, Morten escreveu:
Um período esplêndido da banda chegava ao fim. [...] Naquela noite, eu cresci. Tinha trinta e um anos, mas aquele momento foi o momento que deixei de viver o conto de aventuras de um menino e iniciei minha jornada rumo a uma percepção mais profunda de mim, mais enraizada no mundo. [...] todos os meus relacionamentos tinham que ser reduzidos a essência e reiniciado [...] todos esses momentos podem remontar aquele momento no palco do Rio - uma daquelas ocasiões em que a Terra não sai do lugar e, ao mesmo tempo, você sente que ela continua girando em torno do seu próprio eixo.
O nome do álbum, East of the Sun, West of the Moon, é uma referência a uma belíssima lenda norueguesa bastante semelhante ao mito de Eros e Psique.
Apropriado, não?
Essa é a foto (triste) do meu ingresso quando fui ao show deles em Assunção, no Paraguai, em 2022. Não se faz mais ingressos como antigamente...
É isso por hoje, tchau.