Esses são os discos mais ouvidos do mês de março/23 nesse bat-canal, segundo o Spotify. Edição atrasada, sorry, mas antes tarde do que mais tarde ainda.
O escolhido da vez foi 🥁 rufem os tambores 🥁 Desperado (1973) do Eagles.
Durante a pandemia, me aproximei de uma amiga muito querida, a Camila. Cantora e escritora de primeira, leitora compulsiva e sobretudo, uma apaixonada daquelas que seduz ao falar sobre seus amores, ela me apresentou o mundinho-country-rock-estadunidense. Começamos por Almost Famous (2000), que tem seu pezinho no gênero, e fomos até a seleção de músicas que ela fez para mim intitulada an yeehaw playlist for haydee. Juro para vocês! Foi o começo de um novo mundo para mim que aliás, gostei muito. Como uma música no Spotify te leva a outra, em algum momento encontrei Desperado, primeiro a música, depois o álbum.
A Eagles começou ao acaso, uma daquelas histórias que justificamos com o bom e velho “era para ser”.
Glenn Frey e Don Henley, que se conheceram em 1970 no famoso Troubadour, na Califórnia, foram contratados pela cantora de country Linda Ronstadt para sua turnê de 1971. Posteriormente Randy Meisner e Bernie Leadon também integraram o grupo. Após um breve período com Linda, os quatro se desligaram da cantora e formaram a própria banda.
O álbum de estreia foi lançado em 1972 e intitulado apenas como Eagles com Randy assumindo o baixo, Bernie a guitarra, Don Henley a bateria e os vocais acompanhado por Glenn Frey na voz e guitarra. O disco foi muito bem recebido pelo público e foi o responsável por lançar canções como Take it Easy, um dos maiores hits da banda até hoje.
O disco Desperado, lançado no ano seguinte, 1973, trouxe o country-rock como gênero musical em destaque não apenas pelo som, mas também pela estética. Segundo Glenn Frey, a intenção era basear a temática do disco em um conceito de anti-heróis sendo que a ideia principal, apresentada por Jackson Browne, compositor e amigo de Frey, era utilizar os pistoleiros do velho oeste para esse fim.
Frey e Henley, embalados pela ideia, escreveram sua primeira composição juntos, a Desperado, dando início a essa prolífica parceria, que se estendeu no quesito liderança da banda. Doolin-Dalton, a primeira faixa do álbum, também foi composta pela dupla e é baseada nas gangues de pistoleiros de Bill Dalton, membro da Quadrilha dos Dalton, um grupo de assaltantes de trens e bancos do Velho Oeste estadunidense em atividade entre 1890-1892; e na gangue Wild Bunch, liderada por Bill Doolin, que após se juntar aos Dalton, tornou-se conhecida como Doolin-Dalton. A dupla também escreveu Tequila Sunsire e Out of Control, além de colaborar com os demais parceiros na composição de outras faixas.
A faixa Twenty-One, composta por Leadon, refere-se a idade em que Emmett Dalton, irmão de Bill Dalton, assaltou dois bancos em Coffeyville e mesmo após ser baleado 23 vezes, sobreviveu (!). Outlaw Man, composta por David Blue, é a única que não foi escrita pelos membros da banda.
As fotos do disco, de autoria do fotógrafo Henry Diltz, segue a temática proposta. Na capa, vemos os integrantes da banda trajados como cowboys e empunhando armas. No verso, em cena inspirada na morte dos irmãos Dalton e seu bando, os músicos e mais alguns homens estão estirados no chão, mortos, enquanto outros posam atrás dos corpos. As figuras em pé na foto são o produtor Glyn Johns, John Hartmann, o empresário Tommy Nixon, o artista Boyd Elder (o autor do crânio das capas de álbuns posteriores de Eagles, entre eles One of These Nights, um dos meus favoritos), dois roadies, e Gary Burden.
As fotos foram tiradas no Paramount Ranch em Malibu Canyon, um set antigo de filmagens de westerns. Aproveitando o orçamento, já que a gravadora o considerou muito grande, o filme promocional do álbum foi rodado no mesmo local com uma Super-8, depois no tom sépia e então transferido para o videotape. Em cada etapa do processo, o vídeo perdia qualidade de imagem o que o deixou com um aspecto envelhecido, um acidente positivo, segundo Glenn, já que esse fator combinava com a temporalidade da referência histórica.
Desperado consolidou-se como um clássico tardio, já que na época de seu lançamento não fez tanto sucesso. Tenho a impressão, embora possa estar equivocada, que os anos 70 estavam ainda muito próximos da década de 50 para sugerir um revival do faroeste. Talvez as pessoas tenham visto a proposta como mais do mesmo e não deram atenção suficiente para os demais elementos do disco. A verdade é que a herança, pelo menos estética, do faroeste se tornaria cada vez mais presente no rock, basta observar as vestimentas de bandas de hard rock como Bon Jovi e Guns N’ Roses em início de carreira. O importante é que Desperado existe e como Hotel California, lançado em 1976, estava por vir e o resto, a justiça ao Eagles foi feita.
O passar dos anos trouxe algumas mudanças no quadro de músicos da banda, mas sempre preservando Frey e Henley. Em 1980, devido a algumas tensões no grupo, mas sobretudo pelas constantes brigas entre Henley e Glenn, que aparentemente eram físicas, a banda se separou e ambos se lançaram em carreira solo.
Conheço o Glenn Frey antes de saber do Eagles porque algumas de suas músicas já apareceram nas minhas playlists dos anos 80 no Youtube. As músicas The Heat is On do filme Um Tira da Pesada (1984) e You Belong to The City do Miami Vice (1984-1990), são dele. Aliás, o próprio Glenn participou como ator do Miami Vice interpretando a personagem Jimmy Cole.
Em 1994, a Eagles se reuniu novamente com algumas mudanças em sua formação. Em 2016, Glenn faleceu aos 67 anos devido a complicações de uma artrite reumatoide e pneumonia. Os demais membros anunciaram o fim definitivo do grupo, mas após um ano e meio, se apresentaram novamente com a formação renovada, incluindo o filho de Glenn, Deacon Frey, na guitarra e vocal.
Atualmente, a Eagles possui 7 álbuns de estúdio, diversas coletâneas, singles além de ser uma das bandas mais bem sucedidas dos Estados Unidos e, claro, nos nossos corações.
Para finalizar, a pergunta que não quer calar: se o Eagles era uma banda de country rock, porque o Lynyrd Skynyrd não pode tocar no rodeio de Jaguariúna, não é mesmo?
⭐recomendações que ninguém pediu⭐
❤️Impera (2022) da Ghost
Um álbum magnífico para protagonizar uma perseguição perigosíssima com a Mistérios S/A.
❤️Misplaced Childhood (1985) do Marillion
Um disco incrível, complexo, melódico e que toca a alma. Encontrei uma edição belíssima dele em um sebo e não poderia ter ficado mais feliz.
❤️Froot (2015) da Marina & The Diamonds
Conceito, aclamação e coesão.
❤️Heart of Stone (1989) da Cher
Rock, macacões cavados e a voz rouca e inconfundível da Cher são elementos para ninguém colocar defeito.
❤️Man of Colours (1987) da Icehouse
Aquele new wave de leve para fingir que é adolescente apaixonado nos anos 80. Já comentei sobre a Icehouse aqui.
É isso por hoje, tchau.
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Eu continuo achando que a justiça não foi feita ao Eagles, uma banda ainda pouco lembrada. Agora serei obrigada a reouvir Desperado haha