Esses são os discos mais ouvidos do mês de janeiro/23 nesse bat-canal, segundo o Spotify.
O escolhido da vez foi 🥁 rufem os tambores 🥁 O Romance do Pavão Mysteriozo (1974) de Ednardo. Confesso para vocês que não sei porque a capa do álbum não apareceu na montagem, apenas uma foto aleatória do cantor, mas tudo bem.
Eu nunca tinha ouvido falar do músico Ednardo até alguns dias atrás, quando o Spotify aleatoriamente tocou uma canção dele. A música era Flora e por achar a letra linda, escutei repetidas vezes aquela madrugada até o Last.fm colocar ela como uma obsessão no meu perfil.
Comecei a pesquisar sobre o tal cantor e me deparei com algo que sempre acontece quando procuro por cantores brasileiros, especialmente aqueles fora do mainstream: a dificuldade de achar informações. Não que não encontre nada, mas são sempre informações repetidas e para achar algo mais aprofundado é preciso vasculhar as páginas do Google. Isso me deixa um pouco frustrada, embora o preço de ser artista não seja expor sua vida, desconfio que o motivo não é esse e sim o desinteresse da mídia e do público em geral que acaba por soterrar grandes nomes.
Enfim, pode até ser que eu não tenha descoberto tantas coisas quantos gostaria, mas encontrei duas informações importantes: 1° ele é o autor da música Pavão Mysteriozo; 2° ele é anti Bolsonaro e é evidente que essa informação é muito importante (tenho deus por testemunha de como eu escuto Fagner chateadíssima).
José Ednardo Soares Costa Sousa nasceu em Fortaleza no ano de 1945 e estudou Química na Universidade Federal do Ceará. Em 1972, aos 27 anos, decidiu deixar seu estado e rumar em direção ao Rio de Janeiro em busca de uma oportunidade de se estabelecer como cantor.
Antes da partida, foi convidado por Gerardo Barbosa Lima Filho, para realizar um sarau na loja de discos Vox, propriedade de seu pai. A Vox era um importante comércio de Fortaleza e é lembrada até hoje pelos antigos. Encontrei em um documento do Instituto do Ceará a nota de falecimento de Gerardo pai, seguido por uma breve contextualização de sua história.
Em 1974 lançou seu primeiro álbum intitulado O Romance do Pavão Mysteriozo. A música Pavão Mysterioso, que se tornou um sucesso estrondoso, foi regravada inúmeras vezes (antes de saber da história, conhecia apenas pela voz do Ney Matogrosso) e foi tema da novela Saramandaia em 1976. A inspiração da música vem de um cordel de José Camelo de Melo Rezende, que leva o mesmo título do álbum, e conta a história de um galã tentando resgatar sua princesa.
A famosa canção A Palo Seco, do Belchior, foi cantada pela primeira vez neste álbum. Aliás, Ednardo e Belchior possuem algumas composições em parceria. A faixa Ausência, por sua vez, foi escrita em homenagem a uma garota que o cantor conheceu na saída de uma festa. Ednardo conta, em entrevista, que ao dar carona para a moça, ela
me olhava como se fosse a última vez, deitava a cabeça em meu ombro, me beijava e dava carinhos, de repente vi seus olhos se encherem de lágrimas e foi uma cachoeira, e eu sem entender muito do que estava acontecendo falei – Que é isso, amanhã a gente se vê de novo.
A moça respondeu: “Amanhã estou viajando e não sei se volto...”.
O motivo da viagem é que ela tinha ido participar da Guerrilha do Araguaia e jamais retornou. A ela e aos demais jovens que tiveram a mesma atitude, ele dedicou também a canção Araguaia, do álbum intitulado Ednardo, de 1979.
A leva de artistas cearenses da década de 70 como Belchior, Fagner, Amelinha e o próprio Ednardo, ficou conhecida como Pessoal do Ceará pela mídia. Esse apelido foi criado graças ao álbum intitulado Pessoal do Ceará – Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem, lançado pela gravadora Continental em 1972, que tinha por objetivo despontar os cantores da região como sucessos nacionais.
Recentemente, a Pavão Mysteriozo foi usada massivamente em atos pró-Bolsonaro e Sérgio Moro, situação que desagradou o cantor (amém!). Em uma entrevista, Ednardo declarou que
Fiz esta música no tempo da ditadura militar, e seus versos caem como luva crítica contra este atual desgoverno. Será que os caras não perceberam que ao insistir na sua utilização indevida numa manifestação grotesca, estão dando um tiro nos seus próprios pés?
Lembra que falei do Sarau da Vox no começo? Então, as gravações feitas nesse dia existem até hoje e foram lançadas no álbum Vox Sarau 72 em 2022. A faixa Bip Bip, escrita por Ednardo e Belchior, foi cantada nesse dia, mas nunca fora lançada. A letra de Bip Bip foi encontrada em documentos da Divisão de Censura de Diversões Públicas, o órgão repressor da Ditadura Militar responsável pela censura. Embora a canção nunca tenha sido oficialmente censurada, também nunca foi gravada. O trabalho conta com outras faixas inéditas como Momentos, Além Muito Além (ambas de Ednardo) e De Areia e Vento de Ednardo e Tânia Cabral.
Ao total, Ednardo tem 13 álbuns lançados até hoje, além de diversas colaborações com outros artistas. Eu falei basicamente de apenas um dos seus discos aqui, o primeiro, mas vale muito a pena tirar um tempo para conhecer esse cara, ok? Então ok.
Essa dor que eu sinto agora
É uma dor que não tem nome
Que o meu peito devora e come
E fere e maltrata, sem matar
⭐recomendações que ninguém pediu⭐
❤️Aurora (2022) da banda fictícia Daisy Jones & The Six.
O livro Daisy Jones & The Six, escrito por Taylor Jenkins Reid, conta a história de uma banda dos anos 70 em meio ao sucesso e as difíceis decisões de corações apaixonados. Em março, a Amazon Prime lançará a adaptação em formato de série da obra e é claro que as devidas músicas para essa ocasião foram compostas e estão sendo liberadas aos poucos. Confesso que estou MUITO empolgada. Simplesmente AMO esse livro e o teaser promete.
❤️Born in The U.S.A (1984) do Bruce Springsteen
É muito difícil para mim falar do Boss porque eu sou simplesmente apaixonada por ele. Um disco delicioso para cantar, dançar e se perguntar como o Springsteen pode compor a música mais sexy do mundo (que obviamente é a I’m on Fire).
❤️Fire of Unknown Origin (1981) do Blue Öyster Cult
É uma ótima pedida para iniciar-se em uma ordem secreta ressuscitando Joan Crawford. Ah, o nome do álbum, assim como a primeira faixa, é uma letra de ninguém mais ninguém menos que Patti Smith, a PA-TRO-A!
❤️The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars (1972) do David Bowie
Para mim, o Bowie é um cara que dispensa comentários, principalmente em uma fase tão icônica como foi a do Ziggy. É aquela coisa, se você for dos que se interessam pela temática rock, alienígenas, tragédias e alter ego, esse é um álbum indispensável. Recomendo fortemente a matéria da Querido Clássico sobre os diversos personagens que Bowie interpretou ao longo de sua frutífera carreira.
É isso por hoje, tchau.
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Fiquei curioso aqui, vou procurar pra ouvir amanhã! (E também ouço Fagner com desgosto... hehehe)