E lá vamos nós com as músicas de agosto com alguns álbuns do Raul Seixas.
É difícil identificar o dia em que o nome do Raul Seixas, ou a Maluco Beleza, chegou pela primeira vez aos meus ouvidos, mas parando para pensar na minha relação com a obra de Raulzito, consigo criar uma linha do tempo que ninguém pediu, mas vamos lá.
🛸 Por volta de 2008 - nem sempre tive acesso ao o letras.com
Umas das primeiras músicas que aprendi tocar no violão foi Cowboy Fora da Lei. Não faço ideia de onde tirei essa música, mas acho que foi de umas revistinhas de cifra que mamãe tinha. Queria saber em que lugar elas foram parar...
Essa publicação era uma algo parecido com essa da foto.
🛸 + ou - em 2009 - criança fazendo criancice
Certa vez, mamãe e eu fomos morar em uma minúscula cidade no interior do Mato Grosso. Eu odiava aquele lugar, mas foi ali que recordo do meu primeiro estreitamento de relações com Raul. Estava eu, deitada na área balançando na rede e ouvindo Óculos Escuros e Medo da Chuva no MP3 azul bebe que eu tinha. Ficava imaginando que Medo da Chuva falava sobre um relacionamento amoroso ruim, na verdade acho que minha mãe comentou algo sobre, mas eu não tinha repertório a respeito disso.
🛸 Por volta de 2014-2015 - ex apartamento, ex namorado, ex lava jato, ex banda de fundo de quintal
Quando eu morei em Maringá, perto do meu ex apartamento, tinha um ex lava jato desativado, com o muro meio demolido meio inteiro, pintado de vermelho e uma pixação em preto: o ciúme é só vaidade. Procurei na internet e pow, A Maçã - Raul Seixas. Lembro de passar ali várias vezes com um ex-namorado e pensar como a frase ressoava naquele relacionamento de dois ciumentos patológicos que atiçavam esse sentimento com frequência. Ah, tinha a ex bandinha de fundo de quintal de uns ex colegas que sempre tocavam S.O.S e Pastor João e a Igreja Invisível.
🛸 Por volta de 2016-2020 - Coisas do Coração
Ok, é chegada a hora. Comecei a ouvir os álbuns do Raul, desde o primeiro e você já deve imaginar o que aconteceu. Me apaixonei. Ouvia indo para a faculdade no ônibus lotado, enquanto limpava a casa, jogada no chão do meu quarto. As composições realmente me encantaram, me pegou… Sem contar que eu sempre fui fã de baralhos, estrelas, linhas do destino e referências ao capeta.
Um dia eu estava viajando escutando Raul. O ônibus parou em algum lugar que pegava internet e eu recebi uma mensagem de uma pessoa querida, por quem tenho muito respeito e admiração, mas que às vezes não segura a língua na boca e critica minha aparência física. A pessoa em questão fez um comentário desagradável sobre minhas tatuagens bem na hora que Raul cantou: Por que cargas d'águas você acha que tem o direito? De afogar tudo aquilo que eu sinto em meu peito.
🛸 2020 em diante - atualmente sou fã convicta, mas ainda não tenho uma camiseta do ídolo; tive dois gatos chamados Raul que não estão mais comigo por motivos de morte e adoção (eu era lar temporário, só para deixar claro), mas batizei o gato frajolinha da minha mãe de Raul. Esse é um formato recentíssimo de escrita em que o título e o desenvolvimento são a mesma coisa (CABEÇA, Vozes da Minha, 2022).
Como nas mensagens subliminares enviadas pelos céus, Raul atravessou minha vida em diversos momentos, marcando cada um deles de maneira curiosa e única. Imagino que de certa forma ele tivesse esse poder, uma espécie de magnetismo.
Diversas coisas eu poderia escrever sobre a vida de Raul, mas vou me deter as mais clichês porque os detalhes sórdidos sobre sua trajetória e obra serão revelados em breve. O básico sobre o homem é que ele era baiano, nascido sob a regência de câncer e morto a 33 anos sob o sol em leão. Super fã do Elvis, tinha até fã clube com carteirinha de membro e tudo.
Casou algumas vezes e teve algumas filhas. Não posso me abster de dizer que sempre tive a impressão que Raul foi extremamente inconsequente em relação às mulheres de sua vida. Nos depoimentos do documentário O início, o Fim e o Meio parece que uma coisa que ele nunca aprendeu foi a ter responsabilidade afetiva. Gênio que fosse, ele continua sendo um homem de seu tempo e os homens sempre tiveram aval para agir como crianças, então não sei se era possível que o contrário fosse verdade, embora isso não reduza sua culpa. Faça tudo que tu queres pois é tudo da lei, mas sem ser canalha, né, vamos combinar?
Raul era todo envolvido com coisas ditas místicas, devoto de magos modernos, membro fundador da Sociedade Alternativa, praticante de rituais secretos, avistador de naves espaciais e um gozador cristão. Acredite você ou não que dentro do mambo e da consciência está o segredo do universo é impossível esconder a influência “espiritual”, digamos assim, de Raul. Prova disso é que 33 anos após a morte do homem, advogado pede condenação de Raul Seixas por morte de "príncipe" em acidente aéreo. Ser esquecido também pode ser um privilégio.
Enfim, a novidade.
Tenho alguns livros sobre música e inventei na minha cabeça que seria legal criar um conteúdo sobre eles aqui na resenhas que ninguém pediu. A ideia é que a cada uma quantidade x de capítulos, eu escreva uma newsletter comentando sobre.
O primeiro livro que escolhi para fazer isso ~ que rufem os tambores ~ é um sobre a obra do Raul, claro: Raul Seixas - Uma Antologia escrito por Toninho Buda e Sylvio Passos. Em um encontro futuro, falaremos mais sobre ele.
Se você quiser me contar qual é sua música favorita do Raul, eu adoraria saber. Só responder esse e-mail ou me dar uma alô no instagram.
É isso por hoje, tchau.