No último mês muita gente nova se inscreveu na resenhas que ninguém pediu e eu não poderia estar mais feliz!. Sério! Muito obrigada!
Se você é novo por aqui, talvez ainda não tenhamos sido apresentados: meu nome é Victória, sou Cientista Social e quase Antropóloga (lutando pelo título de mestra) escritora de ficção e não ficção aqui e em alguns outros espaços na internet. Nas horas vagas choro, reclamo do calor, do capitalismo e dou aulas de Inglês. Você pode me encontrar no Instagram, no ex-twitter, ou aqui mesmo no Substack!
Aos novos e velhos leitores, obrigada pela companhia de sempre!
Esses são os discos mais ouvidos do mês de junho/23 nesse bat-canal, segundo o Spotify. Edição atrasada, sorry, mas antes tarde do que mais tarde ainda. Esse ano estou completamente atrasada nos meses, mas prometo que até dezembro regularizo os posts rsrs
O escolhido da vez foi 🥁 rufem os tambores 🥁 Echoes of the Soul (2021) da Crypta.
Nesta edição escolhi a ingrata tarefa de falar sobre um gênero que não conheço. Saiba que jamais aconselharia alguém a fazer isso, afinal de contas, me preocupo com informações verdadeiras e profundas sobre as coisas. Entretanto, dessa vez, fiquei de mãos atadas já que pesquisar profundamente sobre death metal seria uma tarefa longa além de difícil. Esse não é um gênero que me agrada musicalmente, embora admire alguns aspectos como a técnica e a estética do estilo.
Se admito minha total ignorância, porque resolvi falar sobre? Bom, é porque existe uma única banda de death metal no mundo que eu gosto, e como você já sacou a essa altura do campeonato é a Crypta.
Não me lembro ao certo quando conheci a Fernanda Lira, baixista e vocalista da Crypta, mas me encantei com a energia dela. Na época, ela tocava na Nervosa, uma banda brasileira de trash metal formada por mulheres. Embora eu até escute alguma banda de trash metal ou outra, definitivamente não é dos meus estilos favoritos, portanto eu também nunca escutei a Nervosa, mas admirava as meninas e as acompanhava.
Quando a Fernanda saiu da Nervosa, foi um bafafá no mundo dos roquistas brasileiros. No meio das especulações, havia também a curiosidade de saber como seria sua nova banda, a Crypta. Ao novo projeto, juntou-se a baterista Luana Dametto, que acompanhou Fernanda na saída da Nervosa, e as guitarristas Tainá Bergamaschi e Sonia Anubis. Além da Fernanda, eu só conhecia a Sonia, que é uma guitarrista fantástica que admiro muito.
Echoes of the Soul, o primeiro álbum da banda, foi lançado em 2012 tendo a faixa Starvation e From the Ashes como singles. Assim que as músicas foram liberadas, corri para ouvir e… parecia que eu tinha nascido de novo. Aquele som, aquela combinação de elementos, o vocal, a rapidez da bateria, o peso do baixo… explodiu meus tímpanos. Simplesmente me apaixonei por elas.
Em entrevista, a baterista Luana conta que a capa do disco foi desenhada pelo artista Wes Benscoter, responsável por capas de bandas como o Slayer e Autopsy. A intenção é que a capa remetesse a uma estética clássica do death metal dos anos 90, combinando com as faixas, gravadas de maneira mais crua. Na capa, vemos um caixão com a tampa entreaberta, de onde sai fumaça e um tímido feixe de luz. Em cima da tampa, vários olhos e bocas compondo um caixão monstruoso. Conforme Luana comenta na entrevista, a arte simboliza a morte necessária para que um novo ciclo comece. Será que uma criatura renovada irá emergir do caixão quando a tampa for rompida? Todo esse cenário é desenhado dentro de uma cripta remetendo ao nome da banda. Ainda segundo Luana, o nome Crypta foi escolhido a partir de uma viagem dela e de Fernanda a cidade de Brno, na República Tcheca, em que visitaram algumas criptas e ossuários. A partir dessa experiência, surgiu a ideia do nome que combinou perfeitamente com a proposta e o conceito imaginado por elas.
Embora Echoes of the Soul não seja um álbum conceitual, conforme Fernanda conta em entrevista, a morte é o tema central que permeia de maneira subjetiva ou concreta as composições. A faixa Starvation, por exemplo, é inspirada no crescente número de pessoas que passam ou morrem de fome no Brasil, situação agravada pela péssima administração do Governo Bolsonaro diante da pandemia de COVID - 19, além da inflação descontrolada, do desemprego e no aumento da desigualdade social. Já na faixa Death Arcana, a morte é simbólica, visto que essa carta em um jogo de tarô, simboliza a morte figurada de algo para que o novo possa renascer. Já a faixa Under the Black Wings, foi inspirada em um sonho de Luana que, segundo Fernanda, tem pesadelos cabulosos dignos de músicas e filmes de terror. No vídeo a baixo você pode conferir mais sobre as músicas do disco. Vale a pena!
Confesso que tentei ouvir outras bandas do estilo, mas não consigo. Quando digo que admiro o gênero musicalmente é porque sei reconhecer seu valor e complexidade. Me parece muito difícil manter um ritmo tão acelerado nas músicas, assim como controlar o gutural. Ademais, nunca vi capas de discos mais viscerais do que as do death metal. Sério! E os nomes das bandas e dos álbuns, é criativamente mórbido. Eu nunca imaginei que existem tantas palavras para morte, decapitação, canibalismo e temas correlatos.
É aqui que me arrisco a falar um pouco sobre o estilo. Ao que tudo indica, o gênero deriva do thrash metal, mas tem suas particularidades. A criatividade mórbida que citei faz parte da temática predominante: assuntos relacionados à morte, violência, satanismo, anti-religião e política, por exemplo, são comuns. No que diz respeito às técnicas musicais, devo confessar que as admiro, sobretudo a bateria. Vocal gutural, guitarras distorcidas e baixos bem acelerados, são comuns e na batera a técnica blast beat, ou metralhadora, é predominante. Essa última característica foi uma das coisas que mais me chamou atenção, talvez porque os estilos que costumo ouvir não tem nada parecido. O vídeo abaixo é bem curtinho, menos de 2 min, e mostra como é a técnica do blast beat. Vale a pena assistir!
Não se sabe ao certo como o termo death metal surgiu, mas aparentemente é derivado da banda Possessed, que em 1984 lançou uma demo que continha uma música intitulada Death Metal. O Possessed é considerado por uma parcela expressiva dos fãs como a primeira banda de death metal estabelecendo as características do gênero no seu primeiro álbum, o Seven Churches de 1985. Bandas como Morbid Angel e Death também são citadas como pioneiras do movimento. O death metal não me soa um movimento de mainstream, sobretudo no Brasil, mas as duas bandas que me parecem ter quebrado um pouco essa bolha são o Slayer e o Cannibal Corpse. Qualquer pessoa que gosta de rock já ouviu pelo menos falar desses nomes e já viu uma das capas chocantes do Cannibal Corpse. Aqui termina meus dois centavos de contribuição sobre o gênero, ok? Esse link tem uma matéria mais completa sobre o estilo, assim como uma playlist com as principais bandas.
A Crypta lançou recentemente seu segundo CD, o Shades of Sorrow (2023) que é claro, eu amei! A Sonia não é mais guitarrista da banda e compõe hoje o Cobra Spell, uma banda de hard rock que tem como uma das guitarristas a brasileira Noelle dos Anjos. Na Crypta, a guitarrista Jéssica di Falchi substitui Sonia. Admiro demais todas as meninas da Crypta não apenas pelo talento, mas porque sei que elas têm a cabeça no lugar certo. Particularmente, acompanho mais a Fernanda e considero importante as bandeiras que ela levanta como o veganismo, além de falar abertamente em suas redes sociais contra os absurdos promovidos pelo ex-capeta da república e outros assuntos de cunho político. Quantas vezes vi a galera comentando nos posts dela coisas como “Gosto do seu som, mas vou parar de seguir porque música e política não se misturam”. Eu simplesmente acho esse argumento fascinante porque a pessoa que diz uma coisa dessas se julga tão esperta que não percebe que não existe nada mais político do que essa frase. Um artista, seja ele músico ou não, pode criar uma obra que seja meramente entretenimento, que não incomode e só tenha a intenção de divertir, mas isso também reflete alguma coisa sobre a sociedade em que está inserido, portanto, é político. Como a Madonna disse recentemente em seu Twitter, após o lançamento recente de uma propaganda gravada a 34 anos atrás para a Pepsi, mas que foi proibida devido às polêmicas que envolviam seu nome na época, “Artists are here to disturb the peace”.
O rock n’ roll nunca aceitou muito bem as mulheres como musicistas. Não é difícil perceber isso, basta pensar em quantas bandas masculinas são rankeadas como pioneiros de estilo x ou y dentro rock em contraposição as bandas femininas. As bandas compostas por mulheres existem dentro do rock, mas ainda sonham com a projeção e a atenção dispensadas as bandas masculinas. Tenho impressão que, sobretudo em alguns gêneros como o death metal, seja ainda mais difícil se estabelecer uma banda feminina, já que o estilo ostenta simbolismos fortemente relacionados ao gênero masculino. Não preciso entender tanto assim sobre o death metal para perceber isso, basta compreender como o machismo se dá socialmente e voilà. Portanto, reivindicar esse local é outra bandeira importante e corajosa que a Crypta levanta.
Recentemente, a Crypta iniciou sua nova tour do Shades of Sorrow abrindo o show do Ghost em São Paulo. Confesso que chorei lágrimas de sangue por não ter ido (tentei comprar ingresso, mas não consegui), mas outras oportunidades virão!
⭐recomendações que ninguém pediu⭐
❤️Memorial Beach (1993) do a-ha
Um dia eu tive a audácia de dizer que esse álbum é ruim.
❤️Slippery When Wet (1986) do Bon Jovi
É hit atrás de hit. Se eu fosse a Millie Bobby Brown fazia o sogrão cantar esse inteiro no casamento.
❤️First and Last and Always (1985) do The Sisters of Mercy
Esse é para os morceguinhos abatidos nesse calor.
❤️Better than Raw (1998) do Helloween
A bruxa tá solta!
❤️Ride the Lightning (1984) do Metallica
E foi aqui que o chamado de Cthulhu não chamou o Dave Mustaine.
É isso por hoje, tchau.
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Para surpresa de zero pessoas, meu último texto na Querido Clássico foi sobre o a-ha! Sem dúvidas, foi um dos textos que eu mais amei construir. Se quiser ler, é só CLICAR AQUI!
Entrei na onda dos podcasters e estou tentando produzir algo haha
Aviso de antemão que esse é um conteúdo totalmente inútil para você passar um tempinho ouvindo as vozes da minha cabeça, ok?
💰reclames do plimplim💰
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Cara, eu AMEI essa edição sobre a Crypta. Eu ouvia e gostava de Nervosa, mas quando Crypta se formou, foi amor verdadeiro. Esse álbum pra mim é catártico e representa muito o que foi viver esses anos enclausurada na pandemia, convivendo com o medo, a ansiedade, as incertezas e a política assassina da qual nos submetemos. E Crypta foi meu grito. O morrer e o renascer. Não à toa, é a banda preferida da personagem principal do meu livro. Escolhi Kali para representar a jornada dela. A vida, morte, vida. Amei conhecer sua news!
Menina, e voce viu que a Millie falou que o Bon Jovi não vai cantar no casório?? Sobre esse papinho de que "música e política não se misturam", em geral vem de quem discorda do posicionamento. E nem nota que o proprio rock n' roll é muito político. Vai entender...