Essa newsletter tem sido uma terapia. Como toda terapia tem a função de nos fazer entender alguns processos e por consequência nos deixar mais felizes e capazes de compreender nós mesmos, achei por bem falar sobre algo que me deixa muito, mas muito contente: um bom filme com uma boa trilha sonora.
Já pensou o que seria do seu filme favorito sem uma trilha musical? O que seria do Fome de Viver sem Bela Lugosi is Dead, do Rocky sem Eye of the Tiger ou de Flashdance sem Maniac?
Não à toa a Lady Gaga, artista consagrada como cantora e em ascensão em Hollywood, compôs e cantou uma música especialmente para o Top Gun Maverick que finalmente foi lançado em 2022. Embora não seja Take My Breath Away - tema do primeiro filme do Top Gun (1986) - ainda é uma música empolgante e digna de uma continuação tão esperada. A trilha sonora tem um impacto significativo no desempenho de um filme, Hollywood sabe disso e nós espectadores também. Uma trilha bem composta/selecionada é capaz de deixar o espectador imerso na narrativa bem como construir de maneira sólida a mensagem que a obra intenciona passar.
No cinema, existem algumas nomenclaturas para o som. Você pode se deparar com um som diegético que é aquele som que o personagem e o público podem escutar; ou com o som não diegético que é aquele som que apenas o público pode ouvir; ou ainda o som metadiegético, que é um som imaginário muito usado em flashback ou momentos de loucura. Quando digo som, não me refiro apenas às músicas, mas sim a todas as demais ações na narrativa que provocam uma perturbação sonora, como os diálogos dos personagens, os movimentos e, claro, as músicas em si. Quando se fala apenas das músicas, usa-se como nomenclatura o conceito de trilha musical.
O som sempre esteve presente no cinema mesmo na época do cinema mudo. Nesse período, as gravações não eram feitas diretamente com o áudio, então os produtores tinham outras formas de adicionar sons nas películas como, por exemplo, contratando músicos para tocar trilhas simultaneamente a exibição do filme dentro das salas de cinema. Mesmo hoje em dia, com toda tecnologia e com a possibilidade de gravar as cenas junto com áudio, às vezes, é preciso regravar em estúdio. Por exemplo, se você filmar uma cena de diálogo na beira do mar, pode ser que o barulho das ondas interfira na qualidade do som e consequentemente, no entendimento. Por isso, é comum que os atores gravem diálogos em estúdio e dublem eles mesmos em algumas cenas. Da mesma forma, alguns sons de ações também precisam passar por esse tratamento: se você ouve o barulho do metal quando o cavaleiro retira, com vigor, a espada da bainha não é porque esse som de fato saiu na gravação, mas sim porque um profissional especializado, conhecido como foley, criou esse som que foi introduzido no filme na pós produção. Recomendo muito a playlist da Carol Moreira sobre a história do cinema e, consequentemente, sobre como o som se desenvolveu nesse contexto.
Seja a trilha musical ou sonora como um todo, quando bem empregada, é capaz de mudar completamente nossa experiência em relação ao filme. Já pensou se nas cenas de possessão de O Exorcista retirássemos a trilha empregada para colocar umas risadas e palminhas próprias de sitcoms? Pois então, alguém já fez isso.
Até hoje, fico admirada quando vejo um trabalho de trilha sonora bem feito. Sério! E como não há melhor época na moda, no cinema e na música do que os gloriosos anos 80, nessa newsletter eu reuni algumas trilhas musicais dos meus filmes oitentistas favoritos. É importante dizer que a época em que você vive influência na sua experiência. Muito embora eu ame todo tipo de conteúdo relacionado aos anos 80, infelizmente (ou felizmente?), não vivi esse período. É emocionante para mim, como fã, assistir The Living Daylights e escutar a canção do a-ha tocando ao fundo, mas imagino que para quem acompanhava a banda no seu auge, chegar ao cinema e se deparar com a música devia ser muito legal e marcante.
Enfim, dito esse tanto de abobrinhas e groselhas, listo algumas músicas dos meus filmes oitentistas favoritos. Nessa playlist linda maravilhosa dá para ouvir todas essas belezinhas.
A minha favorita do Rocky IV (1985) não é Eye of the Tiger, é Burning Heart, ambas Survivor e No Easy Way Out do Robert Tepper.
Robert Tepper também cantou Angel of the City no Stallone Cobra (1986). Ao que tudo indica o Stallone gostava desse cara.
Dream Warrior do Dokken no terceiro filme do Freddy Krueger (1987) é simplesmente espetacular.
Ainda em 1987, He’s Back do Alice Cooper entra na trilha do sexto filme da franquia Sexta 13, Jason Lives.
Give It Up da Evelyn "Champagne" King, e You Can't Hide From the Beast Inside do Autograph em A Hora do Espanto (1985).
Em 1989, Pet Sematary do Ramones, no filme de mesmo nome. Rock n’ Roll e filme de terror é uma combinação simplesmente infalível.
Flash, do Queen no fantástico Flash Gordon (1980). Aliás, toda trilha desse filme foi composta pelo Queen e sinceramente, recomendo demais. Esse filme é uma bagaceira maravilhosa!
She’s Like the Wind do Patrick Swayze e Hungry Eyes do Eric Carmen no Dirty Dancing (1987). A música (I've Had) The Time of My Life é um hit atemporal e foi composta especialmente para o filme, mas para mim não é tão legal quanto as outras.
Já citei, mas não pode passar batido aqui, Take My Breath Away do Berlin, no Top Gun (1986).
Don’t You (Forget About Me) do Simple Minds, no icônico Clube dos Cinco (1985). Lembro que assisti esse filme pela primeira vez quando eu tinha uns 11 anos, no Corujão da Globo. A imagem estava horrível, chiava muito e eu mal conseguia ver as imagens, mas o som estava bom e essa música nunca mais saiu da minha cabeça.
Great Southern Land do Icehouse, no Young Einstein (1988). Vi esse filme quando eu era muito criança e nunca esqueci de como essa música é impactante. Mais de uma década depois, eu descobri o Icehouse no meio das minhas pesquisas sobre bandas de new wave e imagina só minha surpresa ao reencontrar essa música.
Against All Odd do Phil Collins, no filme de mesmo nome lançado em 1984.
The Winner Takes It All, do Sammy Hagar, em Falcão: O Campeão dos Campeões (1987). Particularmente acho esse filme ruim e só de ver o poster eu já sinto o cheiro de suor e testosterona, maaas é daqueles ruins que a gente gosta, sabe?
Restless Heart do John Parr em The Running Man (1987). A trilha sonora toda desse filme é uma coisa absurdamente bem feita e maravilhosa. Essa música toca no final e é a única cantada, as demais são todas instrumentais.
Old Time Rock N’ Roll do Bob Seger & The Silver Bullet Band, em Negócio Arriscado (1983). Acho que a dancinha do Tom Cruise contribuiu muito para não deixar esse filme e essa música passarem em branco.
The Lost Boys (1987) tem uma trilha tão, mas tão boa que fica difícil escolher as melhores, mas em um esforço descomunal fico com Cry Litlle Sister do Gerard McMann por causa do som do órgão, Good Times pelo simples fato de ser interpretada pelo INXS e, claro, I Still Believe com o icônico Saxman, Tim Cappello.
E claro, não podia faltar, The Living Daylights (1987) do a-ha, em uma das sequência do 007 de mesmo nome. Eu não entendo nada de 007, até gostaria de acompanhar do início, mas ainda não o fiz. Assisti esse exclusivamente por causa da música. No filme anterior, A View to Kill (1985), o Duran Duran ficou encarregado da trilha.
Três músicas perfeitas não estão no Spotify, então vou deixar elas aqui.
We Fight For Love do The Power Station, no filme Comando para Matar (1985).
Burning in the Third Degree do Tahnee Cain, no Exterminador do Futuro (1984).
Por último e não menos importante Xanadu (1980). O filme e a música tema tem o mesmo nome e são ambos interpretados pela Olivia Newton John que faleceu poucos dias atrás.
Espero que tenham gostado e se divirtam com a playlist.
É isso por hoje, tchau.