Antes tarde do que nunca (risos) e aqui estão os álbuns que eu mais curti em setembro.
Mamãe é provavelmente uma das maiores fãs do Cazuza que já caminharam sobre a terra e foi por ouvir ela recitar suas letras que conheci o próprio e claro, a Barão Vermelho. Acho que já comentei aqui sobre épocas obscuras da minha pré adolescência em que me mudei para outro estado e odiava absolutamente tudo e todos. Eu sempre estava muito down nessa época e lidar com a minha “cara de panaca no espelho” era uma labuta amenizada pelas bandas e pelos livros. E a essa altura, caro leitor, você já entendeu que foi aí que comecei ouvir Barão e Cazuza.
O Barão Vermelho começou quando os cariocas Guto Goffi e Maurício Barros, com 17 e 19 anos respectivamente, assistiram a um show do Queen em 1981 na cidade de São Paulo, e desejaram perdidamente montar uma banda de rock. Guto ficou com as baquetas, Maurício com os teclados e, posteriormente, juntaram-se com os colegas, também cariocas, Dé (André Palmeira Cunha) com 17 anos na época, no baixo, e Frejat que tinha 20 anos de idade, na guitarra. Ninguém mais ninguém menos do que Léo Jaime fez uma espécie de teste para cantar com a banda. A mistura não deu liga, mas foi Léo quem indicou Agenor de Miranda Araújo Neto, nome que já conhecia das noites cariocas. E é claro que você já sacou que o tal do Agenor era o próprio Cazuza.
O entrosamento de Cazuza com o restante da banda foi imediata não apenas por sua parceria com Frejat nas composições, mas também porque sua imagem despudorada, porra louca e avassaladora era tudo, e mais um pouco, que uma banda de rock de moleques, nos anos finais da ditadura, se pretendia ser: rebelde. Cazuza tinha 24 anos no início da Barão e apesar de não muito mais velho do que os outros meninos, seus anos a mais de experiência contribuíram com letras mais encorpadas e maduras.
João Araújo, pai de Cazuza, era um dos executivos mais influentes e poderosos da gravadora Som Livre na época e arranjou um trabalho na empresa para o filho. Foi assim que Cazuza conheceu o produtor musical Ezequiel Neves, que enlouqueceu ao ouvir um K7 demo da Barão Vermelho e cedeu o estúdio durante 2 dias, 48 horas, um único final de semana para que os garotos gravassem o disco que se tornaria o primeiro LP da banda, lançado em 1982. Sobre o processo de composição, Frejat conta em entrevista que acordava todas as manhãs, encontrava Cazuza, que se recuperava da ressaca da noite anterior, fumavam um baseado e iam para a praia. Nas madrugadas tremendamente loucas de Cazuza, ele escrevia poemas que entregava a Frejat que por sua vez voltava no outro dia com a versão musicada e eles gravavam demos em um gravador de fitas. Repetiam o ritual dia após dia. Provavelmente foi uma dessas demo que Ezequiel ouviu.
Em uma entrevista divertida, preciosa e descontraída, Frejat diz sobre a forma de compor do Cazuza:
Você fala uma frase ele já leva aquilo tudo, assim sem... Ele nem entendeu direito o que você falou. Ele ouviu errado o que você falou ele já toma aquela reação... E depois fica esclarecido que aquilo que você quis dizer não é nada daquilo, né, mas aí já aconteceu tudo. É uma espécie “dum” vulcão.
O primeiro disco foi lançado e intitulado apenas como Barão Vermelho e apesar de não ter vendido muitas cópias, foi o pontapé inicial que a banda precisava. A música de abertura, Posando de Star, foi marcada pela Censura Federal da Ditadura Militar por conta da letra que dizia: Botando banca / Posando de star / Você precisa é dar. Cazuza gravou a letra cantando “Você precisa é dar-se” e cantava a letra original nos shows, estratégia que funcionou e a música passou. Em entrevista para o Canal Alta Fidelidade (que aliás é um conteúdo que eu recomendou fortemente para quem gosta de música), Guto disse que achava o Barão Vermelho a melhor banda do mundo e que definiria o primeiro disco do grupo como “uma grande cafungada” (frase que ele atribui ao Ezequiel). O primeiro disco dos meninos é exatamente isso: aquela cafungada no pescoço, que arrepia a espinha, do seu primeiro amor da juventude em meio a aquela gana de viver que só a meninice tem.
Em 1985, na primeira e inesquecível edição do Rock in Rio, o Barão Vermelho já despontava com uma grande banda da época e embalou 85 mil pessoas. A apresentação aconteceu no dia em que Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral o primeiro Presidente da República do Brasil, após 21 anos de ditadura militar no Brasil. Em clima de esperança, o Barão Vermelho encerrou o show com Pro Dias Nascer Feliz e Cazuza disse:
“Valeu! Que o dia nasça lindo para todo mundo amanhã. Um Brasil novo, com uma rapaziada esperta”.
Depois de tantos dias de insônia, me dê de presente seu biz e que amanhã o dia nasça feliz. Faz o L e aperta 13.
O texto & o tempo
No primeiro final de semana de novembro, vai rolar o evento O texto & o tempo em que eu, Victória, e outros autores de newsletters como Ana Rusche, Vanessa Guedes, Hermes Veras e Mia Sodré iremos conversar sobre esse formato de escrita tão singular.
Quando: 5 e 6 de novembro
Onde: pelo Zoom
Quanto: 48 reais
O evento irá disponibilizar vagas sociais.
Consulte as informações no site.
É isso por hoje, tchau.
fiquei curiosa se um dia vc vai escrever sobre um disco do the cure, já que vi dois lá em cima! Oo
é lindo esse show! não sabia nem da metade disso