Esses são os discos mais ouvidos do mês de julho/23 nesse bat-canal, segundo o Spotify. Edição atrasada, sorry, mas antes tarde do que mais tarde ainda. Esse ano estou completamente atrasada nos meses, mas prometo - ou não - que até dezembro regularizo os posts rsrs
O escolhido da vez foi 🥁 rufem os tambores 🥁 True Blue (1986) da Madonna.
Madonna é uma daquelas artistas que quase todo mundo já ouviu falar. Ainda que você não saiba nada sobre ela, não acompanhe sua carreira ou não goste dela, ainda assim, seu nome não passa despercebido.
Comigo não foi diferente. Desde sempre conheço os sucessos mais famosos da rainha do pop como Like a Prayer, Like a Virgin, Papa Don’t Preach, La Isla Bonita e algumas canções do Confessions on a Dance Floor, mas não passava disso.
Até que em um dia qualquer, deixei o Youtube rodando no aleatório e de repente Live To Tell começou a tocar. O solinho de teclado e a bateria “seca” me despertaram a lembrança de que essa música tocava no quadro de Love Songs da rádio da minha cidade. Desenterrei uma memória que eu sequer sabia que existia. É claro que fiquei obcecada pela música e é por isso que estamos aqui.
True Blue é o terceiro disco de Madonna, lançado em junho de 1986. Live to Tell e outros sucessos como Open Your Heart e Papa Don’t Preach pertencem a esse álbum. A obra marcou um momento importante na carreira de Madonna já que representou uma mudança em sua sonoridade que até então era considerada mais “adolescente”. Se compararmos com Madonna (1983) e Like a Virgin (1984), seus dois primeiros discos, é perceptível como sua voz está mais encorpada em True Blue. Além disso, ritmos e instrumentos nunca antes utilizados por Madonna são incorporados no trabalho como a batida latina em La Isla Bonita e a influência da música clássica em Live to Tell. Em True Blue temos contato com uma Madonna adulta, casada e profundamente apaixonada por seu marido da época, o ator Sean Penn, para quem dedicou o disco. Nesse momento, Madonna já tinha galgado alguns espaços dentro do showbizz atuando como atriz e cantora, além de já ter irritado a excelentíssima Igreja Católica (embora nada fosse capaz de preparar os conservadores para o que viria nos próximos anos). O ônus e o bônus da fama já eram parte do seu dia a dia.
Madonna é creditada como coprodutora do álbum True Blue além de ter composto todas as canções em conjunto com outros músicos, com exceção de Papa Don’t Preach que foi escrita por Brian Elliot. Segundo Elliot, a letra de Papa Don’t Preach foi baseada em algumas fofocas contadas por adolescentes que frequentemente paravam na frente de seu estúdio para pentear os cabelos nas paredes espelhadas. Os temas abordados por Papa Don’t Preach, 37 anos após o lançamento, continuam atuais afinal a gravidez na adolescência e aborto ainda são grandes tabus. Particularmente, tenho ainda outros sentimentos em relação à canção. Os jovens sempre são lidos como desmiolados especialmente em situações que envolvem a paixão, sempre reprimida por quem já passou dessa fase e esqueceu como é amar cegamente. Para mim a música também é sobre isso, é sobre se apaixonar e viver esse amor até às últimas consequências. E por favor, não pensem que acho sensato engravidar na adolescência, ou cogitar/realizar um aborto nesse mesmo período, falo sobre viver um momento que não voltará mais. Minha avó, que tem 86 anos, disse esses dias que nunca foi velha, que essa é a primeira vez na vida que ela chega a essa idade. Ser jovem também só acontece uma vez na vida.
Open Your Heart é ousada, afinal de contas, é sempre difícil agir como a letra sugere ou, caso você procure nas entrelinhas, expressar desejos sexuais. No vídeoclipe da canção vemos Madonna trajada com seu famoso sutiã de cone dançando em um bordel. Na dança, que lembra a temática burlesca, Madonna utiliza uma cadeira para compor a coreografia, enquanto diversos homens e uma mulher a observam em uma espécie de plateia itinerante. A mulher que a observa e aparece rapidamente no clipe foi um elementos polêmicos já que o conservadorismo da época repudiava toda e qualquer referência a homossexualidade, por mais discreta que fosse.
A capa do disco True Blue foi fotografada por Herb Ritts, que acompanhou Madonna em diversas ocasiões. O photoshoot do álbum é, sem sombra de dúvidas, um dos mais bonitos que eu já vi. As fotos são, por assim dizer, simples, mas a presença e o olhar penetrante de Madonna abala as estruturas de qualquer um. True Blue é até hoje um dos maiores sucessos da carreira da cantora e sua sessão de fotos eternizou a estética Marilyn Monroe punk que só uma leonina como Madonna poderia sustentar.
True Blue foi promovido pela Who's That Girl Tour de 1987. A turnê seguinte, a Blond Ambition World Tour (1990), promoveu o disco Like a Prayer (1989) e performou várias músicas da era True Blue. Na minha opinião, é muito melhor que sua antecessora. Na Blond Ambition, Madonna faz o que sabe fazer de melhor: irritar a Igreja Católica. Em sua performance utiliza a torto e a direito iconografias sagradas como a cruz, veste batina, dança com Jesus negro e tempera todo esse caldo com muita sensualidade. As roupas icônicas dessa tour foram desenhadas pelo estilista francês Jean Paul Gaultier, que foi convidado por Madonna através de uma carta escrita à mão por ela.
Madonna veio ao mundo para incomodar, provocar e questionar valores. Se durante os anos 80 e 90 enfrentou o conservadorismo, a Igreja Católica e a repressão sexual, hoje combate um novo inimigo: o etarismo. Bombardeada por comentários maldosos e misóginos a respeito de sua idade, não se deixa intimidar e segue nos palcos. Desde Joan Crawford e Bette Davis, percursoras do hagsploitation, gênero do cinema de horror baseado em estereótipos etários, as mulheres do showbizz pautam o direito de envelhecer sem ser condenadas ao ostracismo. Ainda bem que Madonna continua aqui afinal de contas nós, meros fiéis, ainda precisamos dela.
Para finalizar, deixo um trecho do discurso que Madonna fez em 2016, ao ser eleita Mulher do Ano da Billboard.
Ele [David Bowie] me fez pensar que não havia regras. Mas eu estava errada. Não há regras se você é um garoto. Há regras se você é uma garota. Se você é uma garota, você tem que jogar o jogo. Você tem permissão para ser bonita, fofa e sexy. Mas não pareça muito esperta. Não aja como você tivesse uma opinião que vá contra o status quo. Você pode ser objetificada pelos homens e pode se vestir como uma prostituta, mas não assuma e se orgulhe da vadia em você. E não, eu repito, não compartilhe suas próprias fantasias sexuais com o mundo. Seja o que homens querem que você seja, e mais importante, seja alguém com quem as mulheres se sintam confortáveis por você estar perto de outros homens. E por fim, não envelheça. Porque envelhecer é um pecado. Você vai ser criticada e humilhada e definitivamente não tocará nas rádios. Eu acho que a coisa mais controversa que eu já fiz foi ficar aqui. Michael se foi. Tupac se foi. Prince se foi. Whitney se foi. Amy Winehouse se foi. David Bowie se foi. Mas eu continuo aqui.
⭐recomendações que ninguém pediu⭐
❤️ Confessions on a Dance Floor (2005), da Madonna
Depois dos anos 80, o revival “madonesco” da disco é minha fase preferida da rainha do pop.
❤️ Hounds of Dog (1985), da Kate Bush
Quando eu morrer quero assombrar um castelo decadente ao som desse disco.
❤️ Heartbeat City (1984), do The Cars
Leia a edição sobre esse disco para saber mais. Spoiler: vale muito a pena!
❤️ David Bowie (1969), do David Bowie
O segundo álbum do Bowie tem uma das minhas música favoritas: Letter to Hermione é uma coisinha linda. E triste.
❤️ Welcome Home (1986), da ‘Til Tuesday
O segundo álbum da banda oitentista da talentosíssima Aimee Mann. Também já falei sobre a ‘Til Tuesday aqui.
É isso por hoje, tchau.
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Entrei na onda dos podcasters e estou tentando produzir algo haha
Aviso de antemão que esse é um conteúdo totalmente inútil para você passar um tempinho ouvindo as vozes da minha cabeça, ok?
Ando viciado em Madonna desde o show em Copacabana, encontrar essa edição falando sobre ela foi um achado! Adorei o conteúdo e a análise que fez da carreira dela. Minha consciência sobre o valor e o peso político do trabalho dela só veio a pouco tempo, depois de me tornar adulto e adquirir mais consciência não apenas do sistema em que vivemos, mas também de mim.
P.S: Esse discurso dela é icônico, chega a ser emocionante!
Abraço!
Estava falando sobre isso esses dias com meu marido! O que Madonna está fazendo agora é sem precedentes - ela está ousando cantar e dançar com roupas minúsculas no palco com 65 anos. Simplesmente não existem casos parecidos. Existem cantoras que cantaram até passarem dos 60, claro, mas sem dançar tanto, sem mirar tão alto fisicamente. Talvez a cantora mais velha que temos fazendo isso hoje, sem ser a Madonna, seja a Beyoncé. Ou seja, uma geração de diferença. A mulher não cansa de quebrar barreiras. Espero que dê tudo certo nessa tour a partir de agora, porque dá pra notar o quanto ela quer <3