Joni Mitchell & Cher
a gypsy dancer that wouldn't know love| Março e abril, 2024
Algumas palavras antes de começar…
Atrasada, mas antes tarde do que mais tarde ainda. Nos últimos dois meses, abril e maio, não publiquei considerações sobre álbuns aqui nas resenhas que ninguém pediu. Escrevo agora uma edição que considera os dois meses supracitados e, portanto, duas obras. Como mencionei na última edição, aprendi a usar o Youtube Music há pouco tempo e, como ele se adequa melhor à lentidão do meu celular, acabei por usá-lo com mais frequência do que o Spotify. Apesar disso, não poderia imaginar que fiquei dois meses sem ouvir uma música sequer no aplicativo verde, apenas no vermelho (nunca fui muito fã de verde mesmo, já do vermelho…). É por isso que desta vez não tem colagem com os álbuns do Spotify, mas um screenshot do Youtube Music.
É provável que no próximo mês, devido à demanda de trabalho, uma edição com duas resenhas aconteça novamente. No mais, agradeço imensamente a todos os inscritos de sempre e aos novos. Espero que gostem daqui!
Ah, e fica até o final, tá? Tenho um pedido para fazer!
Esses são, alguns, dos discos mais ouvidos entre março e abril/24 nesse bat-canal, segundo o Spotify, opa, o Youtube.
Um dos escolhidos da vez foi 🥁rufem os tambores🥁 Blue (1971) da Joni Mitchell.
Joni Mitchell é uma compositora que está no meu radar há alguns anos e que me foi apresentada pela mesma amiga que me introduziu o Eagles. Nunca me aprofundei em sua obra e me limito a conhecer o Blue, que aliás escuto pouco.
Pesquisando sobre a história do Blue e da própria Joni, encontrei algumas fontes dizendo que o álbum foi escrito após o término com seu namorado da época, Graham Nash, outro importante músico. Blue é sobre isso, mas não apenas isso: é também sobre um momento de aventura e introspecção de Joni, durante uma viagem que fez à Grécia, e sobre outros relacionamentos importantes, românticos e materno.
Muitos o chamam de um álbum confessional. Essa é uma definição poética, mas não seriam todas as obras de arte confessionais, em alguma medida? É preciso admitir que existe uma profundidade sentimental e melancólica poucas vezes encontrada nas letras e na maneira como Joni canta; sinto que somente uma alma machucada, mas acostumada, poderia compor algo tão tocante. Blue é uma obra especial, e talvez seja por isso que o ouvi poucas vezes: nem todo momento é capaz de comportar sua grandeza.
O que mais me comove em Blue é a faixa Little Green, que trata sobre a filha que Joni entregou para adoção quando tinha apenas 21 anos de idade, em 1964. A história era um segredo desconhecido pela mídia até que uma antiga colega de quarto de Joni contou tudo.1
Toda temática que envolve mulheres e maternidade é sempre complexa, especialmente no momento em que Joni escrevia sobre isso. Ao engravidar, fora do casamento, a família a condenou e o aborto não era uma opção, restando apenas a adoção. Tal decisão certamente jamais é fácil ou agradável, independentemente dos motivos, mas a verdade é que o pecado é unicamente das mulheres. Ignora-se sempre os homens e sua responsabilidade perante os filhos que geram, ou deixam de gerar. Sempre me comove esse assunto porque sou mulher e, mesmo que tome todas as providências necessárias para não engravidar, existe o risco. Além disso, e de maneira mais profunda, sou filha de um pai que viveu sua vida como se eu não existisse, enquanto minha mãe jamais pode me esquecer.
Foi durante sua viagem à Grécia que Joni conheceu o dulcimer, um instrumento musical de origem medieval utilizado em A Case of You, outra importante composição do disco. Uma curiosidade interessante é que Joni conta em sua biografia que seus pais eram daltônicos, enquanto ela via cores brilhantes e variadas. Sua obra mais famosa e mais lembrada é uma cor, Blue. O azul está relacionado à tristeza na mesma medida em que é associado à espiritualidade e à calmaria, assim como à introspecção. É disso que essa obra trata.
⭐recomendações que ninguém pediu⭐ versão Blue
❤️ Broken English (1979) da Marianne Faithfull
É um belíssimo álbum, da capa azul, pelo qual tenho adoração. Me lembra o Blue da Joni, mas aqui a tristeza é diferente. Não consigo e não pretendo descrever a assimetria, só ouvindo para sentir.
❤️ True Blue (1986) Madonna.
Também é azul, na capa e no nome, mas a cor aqui simboliza pureza. Papa Don’t Preach, uma das faixas do disco, fala sobre gravidez, juventude e um possível aborto. Outra temática cara para quem carrega um útero.
O próximo escolhido da vez foi 🥁rufem os tambores🥁 Heart of Stone (1989) da Cher.
Conheço a figura de Cher desde criança. Meu avô trabalhou muitos anos em uma fazenda e me levava para lá nas férias. A casa da sede era grande, espaçosa, tinha até academia, o auge do luxo para mim naquela época. Na sala, um DVD da Cher, uma grande tecnologia para a Victória criança, com seu rosto estampado. O semblante esguio e marcante e os olhos profundos da Cher nunca saíram da minha cabeça, mas só me tornei fã recentemente.
Não me lembro exatamente por onde comecei, mas acho que foi aqui mesmo, no Heart of Stone. Sua discografia é bem marcada pelas eras e os estilos que transitou. O primeiro álbum nos anos 60 remete a um estilo folk, mais romântico, por assim dizer. Em breve, ela se tornaria uma cigana misteriosa, uma bruxa poderosa com seu gato preto, amadurecida em uma roqueira ousada nos anos 80 e a versão futurista na virada do milênio. A minha favorita, com certeza, é a oitentista.
Lançado em 1989, Heart of Stone conta com grandes colaborações e histórias interessantes. Diversas músicas do disco foram escritas ou produzidas por artistas como Michael Bolton, Jon Bon Jovi e Richie Sambora que, aliás, protagonizou um romance entre 1989 e 1990 com Cher. Essa data é confusa, visto que algumas fontes afirmam que Cher namorava Rob Camilletti na época da produção de Heart of Stone, um outro grande amor que figurou em videoclipes ao seu lado. Para mim, importa apenas que Cher e Richie formaram o it couple dos meus sonhos. Datas pouco importam para alguém que nunca teve amarras para viver seus romances na juventude ou agora, aos 78 anos.
As roupas que Cher usou ao longo de sua carreira são inesquecíveis, destacando sempre suas pernas longas e o cabelo perfeito como parte da composição. Porém, os macacões reveladoress, concebidos por Bob Mackie, e as jaquetas de couro da fase Heart of Stone são especialmente marcantes. Muitos looks icônicos vestidos por Cher em eventos, capas de álbuns e videoclipes foram criados por Mackie, que também imprimiu sua marca de franjas e brilhos em figurinos usados por Tina Turner e Miley Cyrus23.
No videoclipe de If I Could Turn Back Time, Cher canta no USS Missouri, um navio da Marinha dos Estados Unidos, abarrotado de marinheiros, em um de seus macacões brilhantes e cavados. Os fatos são como descritos: o navio realmente foi concedido pelo Governo dos Estados Unidos para as gravações e os marinheiros são de verdade. O videoclipe foi banido em diversas emissoras televisivas por seu conteúdo sensual; a MTV apenas o exibia após as 21h em uma versão censurada e com cenas menos provocantes. A aposta era que a figura da Cher e sua projeção midiática atraíssem mais jovens para o recrutamento das forças armadas. Difícil precisar se a estratégia funcionou ou não, mas ainda bem que alguém colocou essa ideia terrível em prática4.
É isso por hoje, tchau.
📅 lembretes que ninguém pediu 📅
Se você ficou até aqui, aceite meu convite
Junho é o mês de aniversário da resenhas que ninguém pediu. Nascida sob o signo de Câncer, a resenhas é sentimental, apegada ao passado e ao sofrimento. A lua em Áries a move em direção ao que lhe faz sentir-se viva. Sempre comentou as músicas e os álbuns a partir das minhas sensações.
Por isso, para comemorar dois anos de existência da resenhas… quero te convidar para contar as SUAS histórias. Sabe aquela música que marcou seu primeiro amor? Seu primeiro divórcio? Aquela que te faz lembrar um amigo querido? Ou a música grudenta que você odeia, mas sabe de cor? É isso que eu quero saber. Preencha o formulário a baixo: é curtinho, eu prometo. Nas próximas edições, vou compartilhar suas histórias com os leitores!
✨ Leia também minhas outras publicações na Querido Clássico e na cidade do pé junto! ✨
Revisiting Tina Turner’s Most Fabulous Looks - Matthew Jacobs.
Cher’s 10 Best Looks of All Time, Hand-Picked by Bob Mackie - Jazz Tangcay
Eu AMEI essa edição! Adoro Joni Mitchel e Cher e foi muito legal saber um pouco mais delas em uma edição só. E eu também amei profundamente o mapa astral da newsletter!!! (fiquei pensando aqui, meu deus como é que eu nunca pensei nisso antes :O) haha. E que mapa ótimo, arrasou demais!
Como é bom te ler <3